segunda-feira, maio 22, 2006

Políticas de Natalidade...?

Ser ou não ser Português, eis a questão. Se, por um lado, há uns dias, ouvia com orgulho um petiz na televisão afirmar que queria que Portugal ganhasse o campeonato europeu de futebol porque era Português, sorrindo ao afirmar a sua nacionalidade, por outro, ouvi com bastante decepção a confirmação da desonestidade do Governo, que celebrando um Acordo com a Maternidade de Badajoz, contrariando o que anteriormente dissera, vai permitir que os nascituros de Elvas tenham de se dirigir para Badajoz, para nascerem em solo espanhol. Não se pense que se trata de qualquer aversão ao país vizinho. Somos ibéricos, europeístas, devemos cooperar, mas não tanto ao ponto de abdicarmos da nossa nacionalidade e da nossa “raça lusitana”. Não imagino sequer uma situação inversa, o governo espanhol querendo que as suas grávidas dessem à luz em Portugal. E não imagino porque é perfeitamente descabido.

O argumento utilizado é o de que a saúde pública das parturientes e dos seus rebentos pode estar em causa. Assim parecem apontar os relatórios encomendados pelo Governo. Então não se compreende como se pretende aumentar a distância quilométrica e temporal entre as grávidas e as maternidades ou salas de partos. Tudo isto parece condenar muitos bebés ao nascimento precário numa ambulância, assistido por um médico, enfermeiro ou mesmo bombeiro, num qualquer quilómetro de auto-estrada ou de via-rápida. Se é verdade, como afirma o Sr. Primeiro-Ministro, que algumas instalações não têm condições, pois então que se dotem essas mesmas instituições de condições, em vez de se gastar dinheiro em projectos megalómanos, alguns deles que nem passam sequer do papel ou da sofisticada apresentação powerpoint, símbolo do tal ‘choque tecnológico’, que, afinal de contas, não chocou ninguém… Ainda há alguns dias assistimos ao desmoronar de um projecto que o Governo tinha anunciado em Dezembro, querendo mostrar trabalho, sem sequer conhecer pormenores do mesmo. Não vale a pena anunciar apenas por anunciar. Vale mais dizer pouco e fazer mais, é precisamente isso que os relatórios da OCDE indicam: Portugal anuncia muito e anuncia, muitas das vezes, medidas boas, mas muito raramente as põe em prática…

Voltando à questão das maternidades, parece-me igualmente descabido que se encerrem maternidades no Norte e no Interior. Não é assim, em primeiro lugar, que se constrói uma política de natalidade (embora muitos achem que sim…), e também não é assim, em segundo lugar, que se combate a interioridade e o êxodo rural sentido no interior do país. Retirar a quem já tem tão pouco e se sente, por vezes, menos Português, porque paga impostos como os outros, mas não tem vias de comunicação decentes nem médicos perto, por exemplo, parece querer mesmo desertificar essas zonas. É que não é só a Maternidade ou a sala de partos local que encerra. Com elas encerra todo um conjunto de actividades económicas que vivem em redor, gera-se ainda mais desemprego. Todos sabemos que existem sempre uns cafés, uns restaurantes por perto, para que pessoal médico e hospitalar e familiares das parturientes possam tomar uma refeição, beber um café… Com o encerramento das Maternidades é vida que se perde: Vida que deveria nascer tranquila e nasce ou em Espanha ou aos sobressaltos dentro de uma ambulância e vida económica que serve de alento a muitas populações, que vendo algumas actividades económicas encerradas também passam a viver em aldeias e vilas-dormitório, onde o tempo custa a passar, onde não têm nada para usufruir, sítios onde o pêndulo do relógio tem tendência a ir parando para os mais velhos e a acelerar para os mais novos, que, rapidamente, procurarão melhores condições de vida noutro sítio.

Contudo, não são só as maternidades do Norte e do Interior que estão em risco de fechar... A maternidade que serve predominantemente o concelho da Lourinhã, situada em Torres Vedras, está também em risco de fechar, é tudo ainda uma incógnita. Tendo em conta que a Lourinhã, de toda a região Oeste é o município cuja taxa de natalidade é mais reduzida*, que pensas tu de tudo isto, visto que a natalidade é algo que preocupa os jovens, sobretudo a faixa etária dos 20 anos? Concordas ou não com o encerramento das maternidades e salas de partos? Que políticas de natalidade julgas importantes para o nosso concelho não envelhecer?

* Podes confirmar em
http://www.cm-lourinha.pt/actas/prediagnostico.pdf

5 Comentários:

At 12:39 da tarde, Blogger Reis Silva disse...

Cara Fernanda
Penso que a tua preocupação é a de todos nós, contudo devemos analisar todas as variáveis, e não apenas as mais populares.
Deste modo convido-te a passares pelo meu blog www.interesse-publico.blogspot.com, e a leres o meu último post.Não o quis reproduzir aqui porque o acho demasiadamente extenso.
Até Já!

 
At 2:39 da tarde, Blogger Fernanda Marques Lopes disse...

Caro Matias,

Penso que nem todos os casos se podem generalizar.

É verdade que poderão existir casos em que esteja realmente em causa a segurança de parturientes e bebés. Mas penso que em muitos deles não se trata disso, trata-se de cortar despesas.

Entendo que as mudanças (para melhor) têm de ser corajosamente levadas a cabo, razão pela qual, por exemplo, felicito o governo se decidir apoiar a abertura do mercado da propriedade das farmácias, anteriormente reservado a licenciados em Farmácia, mas penso que temos de ponderar bem certas coisas antes de avançar com decisões concretas.

Não me parece que a maternidade de Torres Vedras, por exemplo, tenha tão más condições ao ponto de ser necessário encerrá-la.

Correndo o risco de ser populista, nesta opinião de que, no geral (volto a frisar), a maioria das maternidades não deve ser encerrada, revolto-me contra um sistema de Estado no qual não me revejo. Passo a explicar melhor: cada vez as pessoas pagam mais impostos e contribuem mais para o Estado, retirando dinheiro ao seu património pessoal. Seria, pois de esperar, que o Estado, em troca, prestasse também mais e melhores serviços ou que, pelo menos, não encerrasse aqueles que têm condições aceitáveis e que têm funcionado bem. Não faz sentido termos um modelo tributário socialista, mas depois não temos as contrapartidas que esse mesmo modelo, na sua pureza ideológica, traria. Resumindo, as pessoas pagam mais e usufruem menos do público.

Relativamente aos outros argumentos, eu pessoalmente não gostaria de ir a Espanha para lá nascer um filho meu. A dignidade e honra (e não tolo orgulho) de ser Portuguesa me impediriam. Já chegaram tantos séculos de colonizações políticas e agora económicas. Não sou hostil ao país vizinho e sei que os pais podem registar os filhos como se tivessem nascido em Portugal. Eu própria nasci no distrito de Leiria e fui registada no distrito de Lisboa. Contudo, também penso que sabes que pelo jus solii as crianças adquirem o direito a terem nacionalidade espanhola, devido ao facto de terem nascido em solo hispânico.

E eu lanço a pergunta: achas que os pais portugueses vão fazer mesmo questão de registar os seus filhos em Portugal? Não será Espanha um caminho mais fácil? Repara, Matias: o custo de vida é menor, a qualidade de vida é maior, os impostos são mais baixos, as regalias são melhores, talvez até sendo espanhola a criança uns anos mais tarde possa ir estudar facilmente para lá, quando quiser ingressar na Universidade, como fazem os nossos compatriotas que não conseguem entrar em Medicina cá em Portugal. A pergunta de fundo é esta: será que essas crianças ganham mais em terem nacionalidade espanhola ou portuguesa? Poder-me-ás dizer que poderão ter as duas, é certo, mas também deves imaginar que uma delas predominará sobre a outra. Agora eu pergunto: num interior rural e sub-desenvolvido, preferirão os jovens de daqui a 20 anos serem espanhóis ou portugueses?

 
At 4:03 da tarde, Blogger Reis Silva disse...

Cara Fernanda

O que tentei explicar no meu post foi que para além das medidas economicistas também estão em jogo medidas e maximização dos recursos,aumento dos níveis de qualidade, entre outros. Eu, por não ser médico, nem ter qualquer relação (a não ser familiar)com a área da Saúde, não posso afirmar se a maternidade de Torres Vedras tem boas condições ou não.
Em relação às políticas do Governo, digo-te que o que vejo é uma continuidade da governação de Durão Barroso. Obviamente com as suas "nuances", mas na área financeira a linha é (se me permites a expressão) estupidamente idêntica. E a prova de que o Governo a esse nível não tem feito uma política socialista, é o facto de a Classe Média ser das mais prejudicada ao invés dos "grandes patrões".
No que diz respeito às crianças irem nascer a Espanha,quer as Maternidades fechem ou não elas continuam a ir lá nascer. Aquilo que frizei no meu post, é que uma mãe não tem um filho de um minuto para o outro. A maioria das mães, está em trabalho de parto entre 2 a 3 horas, nomeadamente nos casos em que não têm a dilatação suficiente para terem a criança.
Se Espanha é um caminho mais fácil?!
Penso que se entregasse-mos "isto" aos espanhois, as pessoas continuavam a dizer mal do "governo regional" e estatal.A situação economica, financeira, política e socio-cultural não é o paraíso, é somente melhor que a nossa....mas na Europa não há muitos países piores que o nosso, pois não?!
Ontém ouvi uma pessoa no Telejornal a dizer que se há gente que merecia um murro eram os governantes que temos tipo, porque não conseguem que o país se desenvolva...Ora, o país não são os governantes!Somos todos nós!Por exemplo: os lojistas da Lourinhã queixam-se de pouco clientela. Questiono-me, porque não abrem Sábado à tarde?Porque é que eles próprios não começam a criar uma "política" de se passear na Lourinhã Sábado à tarde? Outro exemplo, porque é que ao Domingo só há 2 ou 3 restaurantes abertos ao almoço na Lourinhã?!O país está tão mal, mas as pessoas também não ajudam, neste caso no desenvolvimento do comércio local!Era bom que todos nos unisse-mos como fizemos para o EURO2004 e como caminhamos para o Mundial na Alemanha!
Dei o Exemplo da Lourinhã, porque é a minha terra, e aquilo que nos toca directamente, mas em muitos locais periféricos o comércio haje deste modo.
Até já

 
At 12:24 da manhã, Blogger Fernanda Marques Lopes disse...

Caro Matias,

É verdade que nalguns pontos o Governo tem seguido uma linha muito pouco socialista e se tem chegado à social-democracia (se calhar por considerar ser um caminho viável :) lol)

E tens razão quando afirmas que o país somos nós. Não vou ao extremo do murro :) lol, mas é verdade que somos nós que nos fazemos a nós próprios.

Toda a gente critica os chineses e as suas lojas, mas eles abrem todos os dias da semana, com horário alargado. Em Macau e na China, por exemplo, as lojas abrem Sábados e a maioria Domingos. Não se pede que estejam abertas 24h/24h em Portugal, mas talvez se tivessem outro modus operandi obtivessem mais lucros. Ainda por cima agora, aqui na nossa terra (Lourinhã), vão estão a surgir grandes superfícies como cogumelos. Não sou genericamente contra, mas há que observar os dois gumes da faca... o comércio tradicional vai-se ressentir... Na Lourinhã tenho a lamentar nunca termos sabido aproveitar as grandes oportunidades. No Euro 2004 Óbidos cativou algumas selecções e mostrou o concelho ao mundo. Nós nunca aproveitámos o maná que cai do céu muito raramente mas às vezes...

Obrigada pela tua preciosa participação. Sê sempre bem vindo a este cantinho...

Um Abraço

 
At 9:47 da tarde, Anonymous Anónimo disse...

Concordo com a Sr.ª Fernanda acerca do encerramento de centros de saúde, hospitais, maternidades,etc. Se querem reduzir custos, que comecem pelos abortos. É uma vergonha tirarem regalias a dificientes, a pessoas com baixas reformas, aos desempregados, e então os abortos em clinicas privadas de luxo? quem paga o zé povinho..claro. Já para não falar do ordenado médio dos Portugueses de 750 €, dizem eles, claro que esta média incluí os ordenados chorudos dos políticos, mas na verdade é uma média enganosa, a realidade é outra, a média é de 450 €. Enfim, fico por aqui para não falar das inúmeras desgraças.

 

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